sexta-feira, 8 de maio de 2009

Pensamentos ** Lembranças


Eu estava pensando coisas sobre meu passado enquanto tomava banho, e estranhamente eu voltei muito no passado e lembrei de ter, aos 14 anos, descoberto e vivido uma experiência dolorida.
Naquela época, creio que estava na oitava série, tinha muitos amigos, dos quais eu amava muito. É a melhor época, quando temos e podemos confiar nos amigos.
Lembro como se fosse hoje.
Minha amiga Natália chegou para mim na entrada da escola e disse: " Meu irmão está com leucemia." Eu disse está com o quê? Ela repetiu: "Leucemia" e entrou. Eu não sabia, nem fazia ideia do que era isso. Realmente achei que fosse algo como uma gripe ou coisa do gênero, nunca tinha ouvido falar....
Como eu vivia na casa deles, eram muito meus amigos, eu sempre dormia lá durante a semana, vivíamos brincando, e ele era um grande amigo que eu gostava muito.
Passamos uns dias brincando, já que era verão e ela tinha piscina, e ele começou a reclamar de fortes dores, como dores musculares nas pernas e tinha febre constante. Fez exames mas não apresentou nada. E ele continuava com as dores, e não achávamos que era pelas brincadeiras, porque a gente exagerava...mas não. Após mais uma bateria de exames, veio o diagnóstico. Ele eu sei que se manteve forte e eu não sabia o que era, achei que ia passar. Depois descobri que não era bem assim. Perdi meus 4 avós por câncer, mas motivados pelo cigarro e pela bebida, isso sim, pode-se entender. Mas um amigo de 14 anos com leucemia?
Eu fico pensando como existem pessoas que passam por isso, por toda estas dores e se fortalece. Eu vi ele sofrendo, lutando sem parar para viver. Eu não faria 10% do que ele fez para poder viver, eu não acreditaria na minha cura, mas ele acreditou. Ele lutava dia após dia, vieram as quimioterapias, os remédios, as decaídas. Quando ele já não aguentava mais sair de casa para fazer o tratamento, eu vi ele fazer as quimioterapias, passar mal por causa delas. Largou o colégio, mas eu jurei que jamais deixaria ele sem amigos. E ele realmente não ficou. Teve todos os amigos ao lado dele. Lembro que num dia fomos todos da turma na casa dele pela manhã fazer uma surpresa....
O tempo foi passando até que infelizmente ele piorou, e muito. Estava na UTI e os médicos já haviam deixado claro que ele não sobreviveria mais, sei que chegou a pedir para o médico que deixasse ele morrer. Mas ele não morreu. Ele escolheu a vida. Hoje ele tem 27 anos. Durante 7 meses da vida dele ele perdeu e ganhou, mas creio que ganhou muito, ganhou uma segunda chance. Afinal, todos tem direito a novas chances.
Ele hoje, supera os problemas facilmente, se formou, viajou e está feliz e eu fico feliz por ele.
Engraçado como são as coisas. Porque depois de tanto tempo eu resolvi escrever sobre isto?
Talvez porque eu não tenha a vontade de lutar que ele teve, a coragem, a busca pela felicidade.
Engraçado é o destino, pois o pai deles é um psiquiatra renomado, que veio me tratar posteriormente.
Eu não acreditaria na cura, eu sou assim, me entrego fácil demais as dores do mundo.
Há dois anos luto com uma doença. Não grave à altura do meu amigo, mas diária, interminável, que sei, é para o resto da vida.
Engraçado como o ator Bruno Gagliasso está mostrando o que é a esquizofrenia na novela Caminho das Índias. Porque a população sofre mais de doenças que afetam a mente do que as antigas doenças, porque elas acompanham o presente e a população já esqueceu o que é ter uma vida saudável, se é que um dia souberam o que é isso.
Mas relatar com tanta perfeição, é no mínimo uma segunda chance. Não existem doentes mentais que não possam ser tratados. Existe uma população preconceituosa e mal informada sobre tudo isso. Hoje, a depressão é um fator que atinge milhares de pessoas, porém já se sabe que não é somente a depressão que atinge as pessoas, são casos novos e doenças melhores classificadas. A esquizofrenia era vista como um doente mental sem condições de vida. Mas hoje, os remédios servem para manter tudo em ordem, já que o organismo não ajuda em tudo, mas sempre há uma segunda chance.
Meu diagnóstico é complicado, é chato, eu sou chata, eu fico chata, eu me torno insuportável ao anoitecer ou ao clarear o dia, e depois viro uma pessoa feliz, que ri, que brinca, mas que não acredita na cura. Aquele amigo sentiu as maiores dores que se possa ter num tratamento. Eu sinto dores na alma. Ele não desistiu, eu desisti. Existem muitos modelos de glórias e fracassos, e eu estou na lista dos fracassados..........
Ah, o pai do meu amigo que me tratou por um tempo com o diagnóstico de depressão, síndrome do pânico e ansiedade desistiu de me tratar...me encaminhou para outro médico, que me passou o diagnóstico de transtorno de personalidade Boderline e também desistiu de me tratar e me encaminhou para outro. Poxa, sou chata mesmo. Sou sim! Quem toma remédios sou eu, quem sofre sou eu, quem precisa de mil tipos de terapias sou eu e eu ficarei calada perante todas as instruções? Jamais. Eu jogo, eu manipulo, eu brigo, afinal quero ver quem realmente é forte o suficiente para poder me dar um bom tratamento. Agora o Dr. Ricardo me suporta. Características de muita calma, paciência. Eu sequer reluto porque se for testar ou manipular ele, vou perder. Porque ele me ganhou na paciência e na vontade de vitória. O que os outros não queriam. Eu era só mais uma da lista. E ainda sou.
Mas agora estou numa lista dos que serão curados ou estabilizados e ter uma vida normal, sem ser chata de manhã e querida de tarde. Acessos de raiva, de choro, de compulsão por comida e compras e assim se segue. Ah mas não pensem que eu não sonho com alguma coisa. Tenho diversos sonhos para minha vida que sei, se tornarão realidade.

Mas sei que a experiência que vivi aos 14 anos, apesar de triste, serve como uma grande lição de amor e dedicação.

Eu sou como uma alcóolatra. Um dia de cada vez, apesar de ser apressada demais e querer que seja tudo na hora e com médicos, que seja da minha forma....risos. É engraçado, pelo fato de que sei mais sobre todos os remédios e analiso e acabo fazendo o papel do médico. É, é muito complicado, mas vivendo um dia após o outro eu também verei os 7 meses passarem e estarei melhor a cada dia, espero.

E assim se faz, uma criança quando nasce não sai andando e cantando por aí. Ela começa aos poucos, com passos, com caídas, com machucados. E estou assim, aprendendo a andar....e a acreditar na cura!

Um comentário:

Soul Orgânica disse...

Gostei muito do seu blog. Tb estou querendo debater alguns assuntos importantes sobre a saude das mulheres. Se puder, me faz uma visitinha:
http://soulorganica.blogspot.com/

beijinhos.